Algumas histórias que ouvimos mudam nossas vidas. E a vivida por Alessandra Rocha é uma daquelas que transformam o nosso olhar perante as dificuldades diárias, dando forças para levantarmos e corrermos atrás do que achamos ser impossível. E se tem uma coisa que essa ex-moradora de rua, que hoje fatura mais de R$25 mil por mês vendendo doces, pode falar, sem dúvida alguma, é que “A Cozinha Mudou Minha Vida!”
VIVENDO NA RUA
Toda história de superação conta com aquela parte em que o personagem se vê perdido, sem esperanças. E essa fase começou em 2005 na vida de de Alessandra, quando uma depressão muito forte a fez decidir sair de casa, deixando para trás suas duas filhas.
Foram sete anos morando nas ruas de São Paulo. “Passei de tudo um pouco: fome, discriminação e frio”, afirma ao AnaMaria Receitas. Contando apenas com a ajuda de abrigos, ela andava horas e mais horas para poder conseguir comer, dormir ou tomar banho.
O tempo passou e, em dezembro de 2012, Alê conheceu o seu anjo da guarda: Edna Rocha. “Estava próximo ao serviço da Edna, quando pedi um prato de comida e começamos a conversar”, conta.
Dias depois, Edna convidou Alessandra para ir à igreja em que costumava ir. Ao final do culto, ela anunciou que, a partir daquele dia, não deixaria a nova amiga voltar para as ruas. Junto com outros amigos, arrecadou dinheiro para alugar um quarto de hotel para a ex-moradora de rua.
Com tanto apoio de seu anjo da guarda, Alessandra conta que voltou a se sentir querida. “Ela fez eu me sentir muito importante, me ensinou a ser forte e me sentir um ser humano de novo, com dignidade, caráter e orgulho de mim mesma”, ressalta.
PEDRAS NO CAMINHO
Em meados de 2013, Edna conseguiu um emprego de doméstica para Alessandra, mas o trabalho durou pouco após a ex-moradora de rua ficar muito doente. “Fui morar com a Edna, que largou seu emprego de 11 anos para cuidar de mim, pois eu estava muito fraca”, lembra.
Em outubro de 2013, Edna e Alessandra receberam uma ordem de despejo, já que ambas estavam desempregadas e o aluguel ficou muito atrasado. Foi aí que o empreendedorismo surgiu na vida delas. “Quando veio a ordem de despejo, já não tinhamos dinheiro pra mais nada e a Edna resolveu pegar maçã do amor de uma pessoa pra revender”, conta Alessandra.
PRIMEIROS PASSOS
Assistindo a programas de culinária, Alessandra sugeriu a ideia das duas começarem a vender trufas e bolos, além das maçãs do amor. “Pegamos os últimos R$ 30 que a gente tinha e iniciamos a produção dos doces”, relembra. E foi assim que surgiu a Doces Rocha, em 29 de outubro de 2013.
EVOLUÇÃO
Alessandra confessa que, inicialmente, não sabia cozinhar nada, mas a vontade de fazer tudo dar certo a fez comprar revistas e livros de culinária para estudar. Só que essas receitas disponibilizadas pelas publicações eram muito caras, bem fora da realidade das duas.
Foi quando Alessandra começou a fazer adaptações e inventar novidades. “Em menos de três meses eu já estava ficando boa na confeitaria e, dos 30 bolos, nossa produção passou para 120 por dia, fazendo com que a Edna não desse conta mais de vender sozinha”, conta a empreendedora.
Com o volume de produção crescendo, Edna começou a vender nos comércios do centro da Penha, na Zona Leste de São Paulo (SP). Mais tarde, a sócia passou a comercializar os doces no Bresser, também na ZL, e, atualmente, as amigas têm pontos de venda em mais de 20 bairros da capital paulista.
PANDEMIA
Como nem tudo são flores, quando a pandemia da covid-19 veio, em 2020, as sócias precisaram fechar a loja e Alessandra caiu em depressão, com medo de perder tudo o que conquistaram. No entanto, Edna não deixou a amiga desistir e incentivou que ela fizesse como no começo: 30 doces para vender na rua.
Mesmo com o comércio fechado, Edna saia com os quitutes que Alê produzia. Quando o governo liberou que os funcionários voltassem ao trabalho, as meninas voltaram com tudo e, dessa vez, com sete funcionários e a produção de 300 doces por dia.
O susto veio em 30 de novembro de 2020, quando Alessandra pegou covid-19 e quase morreu, chegando a ficar em ventilação mecânica por 15 dias devido a piora de seu quadro. Até hoje a empreendedora luta para recuperar o movimento do corpo, pois só conseguia mexer a cabeça quando voltou do hospital.
E foi aí que a cozinha entrou novamente na vida da empreendedora, pois foi limpando os morangos para a produção dos doces que Alessandra recuperou o movimento total das mãos. “Hoje eu trabalho sentada, mas não deixo de produzir meus quitutes, porque é isso que me mantém viva”, afirma uma das donas do Doces Rocha, antes de completar: “Minha meta agora é terminar minha fisioterapia e voltar andar normal, pra poder abrir a loja.”
CONQUISTA
Atualmente, as empreendedoras têm 10 anos de empresa, faturam mais de R$ 25 mil por mês. Segundo Alessandra, o foco agora é ir melhorando a cada dia, inovando e inspirando mulheres a terem determinação para vencer as dificuldades.
“Nunca é tarde pra recomeçar, não importa o quanto isso vai demorar, o mais importante é não desistir”, aconselha Alessandra Rocha.