Em 2021, o tenista número um do mundo, Novak Djokovic, publicou um livro “Sirva para vencer: a dieta sem glúten para excelência física e mental”. Na obra ele basicamente conta que tirar o glúten de sua dieta foi a melhor coisa que ele poderia ter feito e que você também deveria fazer. Mas será que isso de fato é necessário? Entenda a dieta dos famosos e se o glúten realmente pode fazer mal para nosso corpo com o AnaMaria Receitas.
O que é?
O trigo, centeio, cevada, aveia e seus derivados possuem as proteínas gliadina e a glutenina. Elas e outras proteínas menos comuns, porém presentes nos cereais, são chamadas de glúten.
Além de nutricionais, essas substâncias são responsáveis pela elasticidade da massa de diversos alimentos. Por isso, o glúten é tão valioso para a indústria alimentícia, afinal, sem ele, os pães, bolos, macarrão, cerveja e outros milhares de pratos não seriam o mesmo.
Mas se ele é tão importante, por que muitas pessoas evitam ingeri-lo?
Doenças ligadas ao glúten
Assim como algumas pessoas são sensíveis ao leite, ovos e diversos outros alimentos, existe um grupo de pessoas que sentem desconforto ao ingerir alimentos com glúten. Entre essas comorbidades, as doenças mais comuns relacionadas ao consumo de alimentos derivados são doença celíaca, alergia ao trigo e intolerância ao glúten.
Intolerância ao glúten:
Semelhante à intolerância à lactose, a intolerância ao glúten é uma indigestão ligada ao consumo da proteína dos cereais. A intolerância geralmente é a incapacidade de digerir a proteína e por isso os sintomas incluem diarréias, tonturas, dores de cabeça, coceiras cutâneas, gases e dores abdominais. É comum que as pessoas com intolerância à lactose sejam também intolerantes ao glúten, no entanto, o diagnóstico exige a opinião médica e exames laboratoriais.
Doença celíaca:
Muito parecida com a intolerância ao glúten, a doença celíaca é uma resposta autoimune do corpo relacionada ao consumo dessa proteína. Ela provoca sintomas como diarreia, enjoos, gases e dores abdominais.
O maior problema (e diferencial) dessa doença são os danos que ela causa no intestino delgado. A intolerância à proteína dos cereais causa uma inflamação trato gastrointestinal o que promove algumas lesões no revestimento do intestino. Ao longo do tempo, a pessoa que sofre com essa indisposição pode ter problemas na absorção de nutrientes comuns e essenciais.
Alergia ao trigo:
A alergia ao trigo é uma condição mais comum em crianças do que adultos. Os sintomas da alergia podem variar, desde diarreia e indisposição gastrointestinal até asma, rinite alérgica, erupções cutâneas e dificuldade para respirar. Diferente das outras doenças, a alergia ao trigo não está diretamente relacionada ao glúten, mas assim como as outras, ela exige a exclusão desse alimento da dieta como forma de tratamento dos sintomas.
Existem outras diversas doenças relacionadas ao glúten, mas elas são bem raras, até mesmo a doença celíaca afeta até 2% da população mundial. Mesmo assim, se você apresenta algum tipo de desconforto ao ingerir cereais e derivados, procure um médico para que ele possa te aconselhar maneiras saudáveis de excluir essa proteína da sua dieta.
Por que as pessoas seguem essa dieta?
A dieta do “glúten-free” já era bem famosa e necessária para as pessoas com problemas de saúde relacionados à digestão do glúten. Porém, ela ficou bem popular depois de alguns famosos relacionarem a perda de peso com a eliminação dessa proteína em seus cardápios. Cantores, atores, modelos e atletas “motivaram” seus fãs a seguirem os mesmos passos nutricionais e, consequentemente, obterem os mesmos resultados.
Outro motivo para tanta comoção foi a associação da proteína com inflamações intestinais. No entanto, não há evidências científicas o suficiente que concluem que a exclusão dele de fato melhore a flora intestinal.
Além disso, o marketing por trás das embalagens de produtos “glúten-free” pode ser bem persuasivo. Por passarem a energia de alimentação saudável, muitas pessoas ligaram o glúten a algo que faz mal para a saúde. E para pessoas que não possuem nenhuma particularidade relacionada ao consumo dessa proteína, isso é um equívoco.
E quais são os benefícios do glúten, então?
Como já foi dito, não existe comprovação científica o suficiente que nos leva a crer que o glúten pode fazer mal para o nosso corpo. Pelo contrário, diversos pesquisadores da área constataram que produtos “glúten-free” são, na verdade, piores para a nossa saúde.
Sem extremismos por aqui, ou seja, nem todo produto sem glúten de fato é ruim. O que acontece em alguns casos é que, para fazer a substituição dos cereais e manter a mesma textura e consistência, as indústrias de alimentos optam por adicionar mais açúcares e gorduras em seus produtos.
Em 2017, um estudo feito por um jornal britânico de gastrologia concluiu que pessoas que optam por comer menos ou nenhum glúten em suas dietas consomem menos cálcio, vitaminas do complexo B e fibras e mais gorduras e carboidratos simples. Outro estudo, dessa vez canadense, defende os mesmos resultados: produtos sem trigo e seus derivados contém uma quantidade maior de gorduras e carboidratos e menor quantidade de proteína, ferro e vitamina B9 quando comparado com produtos similares, porém com glúten.
Em um artigo publicado pelo departamento de saúde da Universidade de Harvard dos Estados Unidos, o médico e autor Robert H. Shmerling concluiu que as polêmicas por trás do consumo de glúten têm sido um tanto exageradas – e super vendidas. “Não se deixe influenciar por um atleta de elite ou influenciador para restringir sua dieta quando não há razão médica para fazê-lo”, finalizou o autor.
Sendo assim, produtos sem glúten não promovem nenhum resultado adicional para as pessoas que não possuem algum tipo de comorbidade relacionada à proteína. A alta produção de alimentos “glúten-free” é ótima para quem necessita dessa dieta restrita, porém é necessário ter um senso crítico na hora de fazer as compras e analisar os alimentos no carrinho. E lembre-se: é sempre muito importante procurar um profissional da saúde antes de fazer mudanças drásticas em sua dieta.